A Mãe do Autista

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...Investi tudo naquele olhar...Tantas palavras num breve sursurrar...paixão assim não acontece todo dia!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O que é Deficiência Mental?*

Deficiência Mental* é um transtorno neuropsiquiátrico que acomete cerca de 3 % da população mundial. É duas vezes mais frequente nos meninos, congénita (a pessoa já nasce com essa alteração) e caracterizada por um funcionamento cognitivo (intelectual) abaixo da média esperada para a idade. Ou seja, a criança apresenta dificuldade nas chamadas habilidades sociais e adaptativas normais aos outros seres humanos, como a comunicação, a interação social, o autocuidado e o pensamento lógico e abstrato.
As causas podem ser genéticas (fenilcetonúria, síndrome de Down, síndrome do X frágil, Prader-willi,…) ou consequência de eventos traumáticos que aconteceram durante a gestação (uso materno de álcool e outras drogas), durante o parto (hipóxia perinatal) ou depois dele (desnutrição). Algumas doenças infeciosas adquiridas pela mãe durante a gestação (rubéola, toxoplasmose, sífilis,…) podem levar o bebé a quadros de deficiência mental. Além disso, outras patologias que acometem o Sistema Nervoso Central do recém-nascido (meningite) ou traumas cranianos graves (quedas do berço) em crianças pequenas. Apenas 50% dos casos diagnosticados a etiologia é conhecida, o que nos ajuda a prevenir novos casos e a aconselhar pais e familiares. A investigação das causas sempre deve ser feita com uma história familiar detalhada, além de alguns exames laboratoriais e de imagem cerebral.
Apesar da deficiência mental não possuir cura, isso não deve ser olhado negativamente, pois após o diagnóstico correto pais e familiares devem ser orientados e a criança estimulada dentro de suas limitações, seguindo acompanhamento e tratamento adequados. O reforço na aprendizagem das funções intelectuais, juntamente com a paciência e a repetição no ensino fazem com que o prognóstico seja melhor e novas funções sejam incorporadas ao quotidiano dessas crianças.
A deficiência mental é classificada de várias formas, inclusive levando em conta valores de coeficiente de inteligência (QI). Uma das classificações, mais utilizada atualmente, é a que denominamos a deficiência de leve, moderada ou grave, de acordo com o auto funcionamento. Por exemplo, na deficiência leve as crianças são capazes de promover o seu autocuidado sem ou com pouco auxílio, já na grave a ajuda tem de existir.
Algumas comorbidades médicas são comuns aos casos de deficiência mental. Dentre elas, dificuldades motoras de locomoção, dificuldades de atenção (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), episódios de agitação psicomotora e heteroagressividade, e epilepsia. Em todos os casos existem medidas comportamentais e medicamentosas que melhoram o transtorno.
Médicos e familiares têm por obrigação promover a melhor qualidade de vida possível dessas crianças, além de estimulá-las intelectualmente e defender a sua inserção social. Ter um filho é sempre estar presente na sua vida, na deficiência mental isso não é diferente.
Drª Thaís Zélia dos SantosPsiquiatra
In: Filhos e Cia
*Nota: Presentemente, o termo Deficiência Mental tem sido substituído por Dificuldade Intelectual e Desenvolvimental (DID).

Aquisição da linguagem pelas crianças deficientes auditivas

Antes de escrever gostaria de dizer que não estou conseguindo responder as perguntas deixadas no blog, bloqueia, peço mil desculpas, deixo meu email alessakravitz@hotmail.com, no assunto coloquem blog. Abração Ale

Aquisição da linguagem pelas crianças deficientes auditivas


Em todas as crianças a interacção verbal e não verbal inicia-se nos primeiros dias. Os problemas que se põem dependem do tipo de surdez, e se esta é adquirida antes ou depois da iniciação da linguagem, ou depois da aquisição da leitura e da escrita. Se a surdez aparece quando a criança já domina as bases da linguagem e começou a aprender a ler, o desenvolvimento pode ser normal, tendo precaução e utilizando técnicas de reeducação.

Apesar do choque psicológico não desprezível e que pode determinar perturbações psicóticas por vezes graves, mas curáveis, a criança pode aprender a inserir-se numa vida normal .

Se a surdez aparece antes da aquisição ou do início da aquisição da leitura e da escrita, a linguagem pode deteriorar-se rapidamente. A reeducação pode, contudo, limitar consideravelmente o défice.
Se ela surge antes do aparecimento da linguagem falada a situação da criança reduz-se praticamente à do surdo congénito.

A aquisição da linguagem é o problema primordial da criança surda. No caso do défice mais grave, o da cofose, a criança surda é muda, porque é surda.
Segundo H. Furth e J. Younisse e admitido por todos os especialistas, não existe criança surda típica, cada caso levanta problemas específicos. Podem-se contudo realçar muitos traços comuns.
A maior parte destas crianças nascem de pais que ouvem. Ficam portanto afastadas das comunidades de surdos até à idade que lhes permite uma certa autonomia e uma inserção social independente do meio familiar. São pois, inicialmente, crianças sem linguagem e a linguagem gestual utilizada em tais comunidades é para elas uma "língua materna" como poderia ter sido no caso de terem sido expostas a ela desde a primeira infância. É importante estabelecer aqui uma distinção entre a linguagem oral e gestual.
A linguagem gestual permite, sinais sincréticos ou com um valor de significado global cuja compreensão dispensa uma recodificação na escrita, recodificação que pode ser estabelecida mais tarde.
É por intermédio destes sinais sincréticos, que a criança surda educada num meio de surdos pode chegar a uma linguagem gestual elementar anterior a uma linguagem gestual recodificada a partir do sistema de grafia. Todavia, habitualmente não é esse o caso, pois os pais auditivos normais ignoram essa linguagem e só descobrem bastante tardiamente a extensão real do défice auditivo do filho. É por isso, que os surdos congénitos devem ser considerados na primeira infância, isto é, durante o período normalmente destinado, do ponto de vista biológico, à aquisição da linguagem, como crianças sem linguagem, no sentido estrito do termo, portanto sujeitos a perder todas as etapas privilegiadas da sua aquisição.

Estas crianças elaboram contudo, e de uma maneira espontânea, gestos e comportamentos simbólicos que utilizam com realidade na sua vida quotidiana. Isto parece confirmar em certa medida a hipótese de Piaget de uma função simbólica ou simiótica anterior à linguagem e na qual se baseia normalmente a sua construção. Mas tais crianças têm a falta do contributo poderoso do ponto de vista da estruturação da vida mental e intelectual que é um sistema simbólico "pré-fabricado". É esta falta que as diferencia especificamente das outras crianças e o seu desenvolvimento intelectual deve ser considerado à luz desta condição especial.

A apreciação exacta das suas faculdades foi durante muito tempo afectada pelo preconceito, segundo o qual, a ausência de qualquer linguagem adquirida do exterior e assimilada para gerar nelas a fala interior, comprometia o seu desenvolvimento intelectual.
O enfraquecimento destes preconceitos deve-se tanto ás investigações recentes, como a uma modificação nas concepções teóricas que tendem a separar o pensamento da linguagem.
Depois de ter recordado que a aprendizagem da linguagem provinha, essencialmente, das funções integradoras do cérebro, Fry acrescenta que a base do sistema fonológico é a organização do sistema nervoso central, que resulta mais da informação acústica do que da natureza das vibrações acústicas. Esta constatação, acrescenta ele, é da maior importância para compreender a situação das crianças que nascem com défice auditivo, já que uma deficiência do ouvido não implica uma deficiência do cérebro.


Grande parte das investigações podem situar-se na perspectiva defendida por Furth: os surdos têm uma inteligência semelhante à dos ouvintes e as diferenças encontradas são devidas a deficiências no conjunto das experiências vividas pela criança surda. Esta atinge o mesmo nível que o ouvinte, ainda que com um certo atraso, já que o desenvolvimento intelectual não depende do desenvolvimento linguístico.