A Mãe do Autista

A Mãe do Autista
...Investi tudo naquele olhar...Tantas palavras num breve sursurrar...paixão assim não acontece todo dia!

terça-feira, 27 de março de 2012

Além do diagnóstico de autismo meu filho tem surdez bilateral profunda.

Numa dessas idas e vindas no Hospital Universitário pra testar o aparelho auditivo, que sempre foram desastrosas, sim porque ele odeia hospital, e tudo que vem de branco hehehe!

Então ele fica muito nervoso ,irritado, grita, esperneia, consome muito a energia da gente sempre saímos de La arrasados.

Numa tarde chuvosa aqui em Floripa fomos ao HU, parece que naquela tarde toda a água da atmosfera resolveu despencar ali,como não havia lugar no estacionamento fiquei na marquise do hospital esperando o meu marido que tinha ido buscar o carro longe.

Ele se torcia, se jogava no chão, gritava, e eu já não tinha mais força física para contê-lo, tinha muita gente ali, mas tinha um homem mais velho, que eu vi que nos olhava já com uma cara, e eu já nem olhava mais na direção dele.

Veio uma menina muito fofa que estava vendendo bombons ali e até ofereceu um pra ele pra ver se conseguia acalmá-lo, guloso do jeito que é, recusou, e ai da pra ver como eles perdem o controle qdo estão assim nem o bombom ajudou.

Até o tal homem não se conteve, veio em nossa direção e em tom auto pra quem quisesse ouvir falou pro meu filho, mas certamente o recado era pra mim a mãe!

- Oi menino, será que você não sabe que isso é um hospital e não se pode ficar fazendo barulho, gritando?

-Olha tem um bebezinho lá no terceiro andar querendo dormir, e não consegue por causa dos teus berros!

Eu respirei fundo, e com toda elegância e tranquilidade de um monge (não sei como consegui essa proeza) Falei:

-Bom tarde meu Senhor, é uma pena ele não poder ouvi-lo porque além de surdo meu filho também é autista, e nós estamos aqui nesse hospital buscando tratamento, ele é portador de necessidades especiais e sofre muito qdo esta num hospital.

O homem calou-se, sumiu entre as pessoas, ficou um silêncio, só se ouvia a chuva e os choros do Gui.

Depois de alguns minutos, ele retornou meio se jeito e comentou:

- É...eu fui professores do curso de física aqui na Federal muitos anos da minha vida, e realmente os autistas são pessoas muito bonitas...tive muitos alunos autistas!

Eu apenas sorri!

Eu entendi o que ele quis dizer nessa frase meio sem graça, ele quis dizer que como poderia imaginar que uma criança tão linda, poderia ter tal distúrbio.

Pois é são situações que passamos, como nossos filhos não têm características físicas que identifique sua síndrome, pagamos como mães que não educam, não da limites, já ouvi uma chinelada resolveria, bom se fosse tão simples assim né!

*************************

Sabe aquelas rodinhas de mãe de futebol, pois é eu estava numa delas , qdo uma daquelas mães comentou:

-Pois é menina La na minha rua tbém tem um menino autista de 8 anos, ele não pára nunca, ta sempre sozinho no parquinho la perto de casa, às vezes meu marido pega ele e leva pra casa, ela diz que não da conta que ele foge , pula a janela, ela agora arrumou outro filho casou de novo.

E continuou a falar da mulher.

Depois que ela falou, esperei deixa e fui logo perguntando:

- Ta, ela acabou de ganhar bebê, ela fica sozinha com eles em casa, o menino foge é hiperativo...

Vocês nunca se ofereceram pra dar uma olhadinha nos meninos enquanto ela dava uma dormidinha?

O silêncio foi geral.

Eu erro muito, muito mesmo, tem dias que eu tenho vontade de largar tudo, deixar o Gui fazer o que quer, de desistir, de deixar de cobrar tanto, de ter postura tão militar, mas eu sempre busco sei la onde me refazer diante dos meus erros e fraquezas.

Mas sei, por sentir na pele, que não é pra qualquer um, que temos uma síndrome em casa, que vai testando nossos limites, sugando nossa energia, por mais que lutamos e amamos os filhos, é preciso muita força, e nem todos tem!

"O autismo é uma síndrome dentre os graves distúrbios do desenvolvimento, que compromete o funcionamento e a estrutura do grupo familiar que convive com esse indivíduo. Muitas famílias apresentam emoções de luto pela perda da criança saudável que esperavam e, com isto, caem num quadro depressivo bastante doloroso." Que pode levar muitos anos, as vezes nunca passa.

LEON e LEWIS (1993) lembram que o nível de stress e de preocupação desses pais é muito grande, comparado com pais de outras crianças portadoras de outras desordens no desenvolvimento.