A Mãe do Autista

A Mãe do Autista
...Investi tudo naquele olhar...Tantas palavras num breve sursurrar...paixão assim não acontece todo dia!

sábado, 25 de setembro de 2010

Vídeo sobre autista não verbal que se comunica por computador.

Esse texto foi traduzido por meu amigo Felipe Alves, companheiro em conversas e troca de experiências.
Veja o vídeo primeiro, depois leia a tradução, eu fiquei horas divagando na mente sobre ele, achei maravilhoso! Embora o vídeo seja talvez um tanto impactante!


http://www.youtube.com/watch?v=JnylM1hI2jc


"Na primeira parte deste vídeo eu falei na minha linguagem nativa. Muitas pessoas acham que, quando eu digo que essa é a minha linguagem quero dizer que cada parte do vídeo possui uma mensagem simbólica particular destinada a ser interpretada pela mente humana.

Mas minha linguagem não tem a ver com a criação de palavras ou símbolos visuais que devam ser interpretados. Ela tem a ver com o estar num diálogo contínuo com cada aspecto do meu ambiente, com o reagir fisicamente com tudo o que me cerca. Nesta parte do vídeo a água nada simboliza. Estou apenas interagindo com a água enquanto a água interage comigo.
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Longe de ser despropositada, a maneira como eu me movimento é uma resposta contínua ao que está em torno de mim. Ironicamente, o jeito com que me movimento enquanto respondo a tudo em meu redor é descrito como " estar num mundo só meu", ao passo que se eu interagir com um conjunto muito mais limitado de respostas, e reagir apenas a uma parte bem mais limitada do meu ambiente, as pessoas afirmam que estou "me abrindo a uma interação verdadeira com o mundo".

Elas julgam minha existência, minha consciência e minha personalidade a partir dessa pequena e limitada parte do mundo à qual eu pareço estar reagindo. O modo pelo qual eu naturalmente penso e respondo às coisas parece tão diferente dos conceitos padrão que os outros no fim das contas não o consideram como "pensar", mas que é sim um modo inteiramente legítimo de pensar. Contudo, o modo de pensar de pessoas como eu só é levado a sério se nós aprendemos a linguagem de vocês, não importa o quanto tenhamos pensado e interagido anteriormente.

Como vocês ouviram, eu posso cantar junto com o que está à minha volta. Mas só quando eu escrevo algo na linguagem de vocês que vocês me consideram como "estabelecendo comunicação". Eu cheiro as coisas, ouço as coisas, sinto as coisas, provo o sabor das coisas, olho para as coisas. Mas não basta olhar, ouvir, provar, cheirar e sentir, eu devo fazer isso tudo com as coisas certas, como olhar para livros, e deixar de fazer isso com as coisas erradas; do contrário as pessoas duvidarão que eu seja um ser pensante, e uma vez que a definição delas de pensamento define para elas a definição de personalidade, elas ridiculamente duvidam que eu seja uma pessoa de verdade.

Eu gostaria sinceramente se saber quantas pessoas, se me encontrassem na rua, acreditariam que eu escrevi isso tudo. Aliás, acho muito interessante como o fato de não conseguir aprender a linguagem de vocês é visto como um déficit, enquanto que não conseguir aprender a minha linguagem é visto como algo tão natural que pessoas como eu são descritas oficialmente como misteriosas e enigmáticas - em vez de se admitir que sejam elas próprias que são confusas, e não que os autistas ou outras pessoas com deficiências cognitivas sejam inerentemente fonte de confusão.

Somos inclusive vistos como não-comunicativos se não falarmos a linguagem padrão, mas os outros não são considerados não-comunicativos se mostram tão desinteressados pelas linguagens que nos são próprias, uma vez que elas não crêem que elas existam.

Enfim, quero que saibam que não pretendi mostrar aqui um circo de horrores voyeurístico, com vocês assistindo à atividade bizarra de uma mente autística. O que eu quis foi afirmar de modo claro a existência e o valor das várias formas diferentes de pensar e interagir, num mundo em que a proximidade que você parece estar de uma única e específica dessas formas é que determina se você será visto como uma pessoa de verdade, ou como um adulto, ou como uma pessoa com inteligência. E num mundo onde essas coisas são o que determinam se alguém possui direitos, pessoas são torturadas e morrem porque são vistas como não-pessoas, porque a forma de pensar delas é tão incomum que não é considerada "pensar" afinal. Só quando as várias formas de personalidade forem reconhecidas como tal é que a justiça e os direitos humanos se tornarão possíveis".

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A psicóloga pediu que eu fizesse uma atividade com o meu filho mais velho de sete anos, que estava de escanteio. Então inscrevi numa escolinha de futebol, e tenho levado duas vezes por semana, e realmente nos aproximou novamente, porque o levo a pé e vamos conversando no caminho, vendo coisas, comendo pastel na feira que fica no caminho, e sou só dele!

Mas o que vou escrever não é nada sobre nós dois, mas sim das "conhecidências da vida".

Na segunda semana , uma mãe se aproximou mais de mim, falava muito, e qdo disse que tinha um filho de 4 anos perguntou pq não vinha ao futebol. Ai lhe expliquei que era autista, não por ser autista, mas ele era hiperativo e fugia muito e eu já não tenho mais resistência pra segurar ele; expliquei tbém que era o momento mãe do Martín.

Semanas depois , ela me perguntou novamente se eu não iria trazer o Gui; e antes de eu responder ela já foi logo dizendo:
-Você viu o filme meu filho meu mundo?

E eu respondi que sim, ela continuou:
-Eu estava assistindo esse filme com minha irmã, e ela disse que eu girava pratos daquele jeito e sacudia as mãos qdo pequena, exatamente como a cena do filme.
Ficava horas em baixo da mesa sacudindo-se pra frente e pra trás e falando coisas sem sentido, se ninguém fosse tirar ficava horas a fio ali.

Ela deve ter mais de 40 anos, imagina então como era naquela época, curandeira, benzeduras, despacho até a camiseta dela foi enterrada pra "curar" aquilo tudo.

Qdo maior, tinha amiguinhos, mas o que gostava mesmo era ficar na cama de baixo do beliche com uma coberta cercando tudo , ficava horas ali no escuro.
Qdo sumia ou estava em baixo da mesa ou de alguma cama.

Esquisita aos olhos dos colegas, tinha notas altíssimas, inclusive na faculdade onde quase recebeu honra ao mérito.

Ela ia falando e a lágrima escorrendo, talvez estivesse passando um filme em sua mente, principalmente qdo falava do bulling que sofria na escola.

Uma vez pegou colegas de turma falando dela no banheiro, diziam coisas horríveis, chamando-a de retardada pra baixo. Disse que ficou arrazada, foi horrível.

Estava querendo dizer tudo aquilo ha dias , que só a irmã dela sabia disso; pois entenderam o que se passou com ela qdo criança depois que viram o filme juntas certa vez.

E eu ali vidrada naquela história, aberta a todas aquelas informações e me sentindo "a terapeuta" !rs.
Dei muita risada ouvindo falar das esquisitices dela, das lágrimas já saíram gargalhadas, e ela pareceu-me tão aliviada em compartilhar essa história, talvez por perceber que eu sou uma pessoa muito tranquila em relação a essa coisas.

Sugeri que ela pesquisasse sobre síndrome de Asperg, estou muito curiosa para o próximo encontro!