A Mãe do Autista

A Mãe do Autista
...Investi tudo naquele olhar...Tantas palavras num breve sursurrar...paixão assim não acontece todo dia!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A MÃE DO AUTISTA: O Flamenco sem as mãos

A MÃE DO AUTISTA: O Flamenco sem as mãos: Uma vizinha me convidou no início desse mês para fazer uma apresentação numa creche que ela é voluntária, convidou meu grupo, no qual...

O Flamenco sem as mãos





Uma vizinha me convidou no início desse mês para fazer uma apresentação numa creche que ela é voluntária, convidou meu grupo, no qual nos apresentamos certa vez a convite dela também  para uma festa de idosos.

Passado o mês ela veio me lembrar, eu confesso que não estava empolgada porque eu teria que ir sozinha.
Não só por estar sozinha, mas tbém porque venho atravessando um período meio tempestuoso na minha vida, inclusive afetando uma coisa que gosto muito que é dançar.

Mas enfim, é uma vizinha que não posso dizer não, mesmo indo um pouco pra baixo e sozinha, me arrumei como se fosse um espetáculo no teatro, fiz com gosto.
Escolhi um figurino bordô, porque sei que chama a atenção das crianças, era uma Festa da Família numa creche numa comunidade carente, escolhi duas músicas uma dela eu usei um mantón(xale) e o leque, que deixei-os em uma cadeira.

Cheguei na frente de todos peguei o microfone falei um pouco de que se tratava a dança, qdo a  música tocou eu senti que por trás de mim vinha chegando uma menininha miudinha, cabelinho cacheado no ombro, vestidinho rosa,uns 3 anos; vi que ela já veio dançando.

Qdo eu virei pra dar a atenção pra ela percebi que ela não tinha uma das mãos, e a outra mãozinha tinha alguns dedinhos defeituosos.
E sentiu um choque pelo corpo, e vi que os olhinhos dela brilhavam !

Ela dançava sorridente, tentou pegar meu leque, mas não conseguia por conta das mãos, eu o abri agachei e dei em suas mãos, ela ficou encantada. E eu mais ainda porque ela me olhava de um jeito que eu me sentia uma fada.
Alguém veio pegá-la e eu fiz sinal que a deixasse ali.
Ela pegou o mantón, tentava imitar meus movimentos de saia, dos pés e não tirava os olhos das minhas mãos, e olhava pras “mãos “dela tentando fazer os movimentos, mesmo com o problema que tinha.

Foi muito emocionante só de lembrar as lágrimas já vem aos olhos.

O flamenco sem mãos, a dança da alma, não existe fronteira nem exclusão dentro da dança, da arte, como me senti abençoada; principalmente quando a avó  disse que ela tinha passado a tarde toda no colo triste, que qdo me viu passar com aquela roupa pulou do colo e veio logo atrás de mim! 

Como a dança é um portal, mexe com a alma, como eu me senti feliz! Como foi um presente eu estar ali, que lição meu Deus!
Não há pra mim algo mais lindo do que ver as mãos de uma bailaora de Flamenco, seus dedos que dançam, riscam o ar, numa linguagem poética, que nos hipnotizam e nos faz embarcar numa história.
Há 5 anos no flamenco ainda não tenho essas divinas mãos, mas venho trinando todos esses anos.

Nunca vou esquecer aqueles olhinhos e aquelas "lindas mãos" que bailavam no ar, as mais lindas e flamencas que já vi!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Então crescemos ouvindo os horrores de ser “deficiente”.



"O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença.”

Luís Fernando Veríssimo



Existem imagens marcadas na nossa infância que não se apaga. Às vezes fico aqui refletindo como foi o meu contato no mundo dos “deficientes”, uso o termo deficiente aqui porque foi como eu fui apresentada na infância pra essas pessoas.
Uma das primeiras lições, era não olha-lo.

Qtas vezes fui chamada atenção: não fica olhando assim! Pára de olhar! O intuito era de não constranger o deficiente com a nossa curiosidade, ou olhar de espanto, pena.

Talvez se a interferência fosse diferente, do tipo dizer que somos todos, diferentes, ou filha tudo bem, pode olhar, mas sorria e de um bom dia.

E essas palavras vão sendo depositadas lá no fundo do nosso inconsciente de uma forma tão predadora, que com o passar do tempo, no meu caso, eu passei a evitar olhar esses tipos de pessoas, torná-los invisíveis no meu mundo.

Eu acredito que para muitos não seja diferente.

Qdo eu estava no “primário” lá com os meus 8 anos, eu ainda peguei “uma classe” especial na escola, e confesso que tinha muito medo deles.

Eles gritavam tinham comportamento diferente do nosso, alguns agressivos, possuíam feições esquisitas, eram bem maiores que a gente (até por terem idade mais avançada), tinha dificuldades motoras, ou seja, tinham um andar estranho, caminhavam pelo pátio como o verdadeiro “circo das aberrações”.

Qdo eles passavam sempre em grupo com a  professora todo mundo abria logo o caminho e ficávamos olhando para eles! E claro a sala era la longe isolados de todo mundo.

Hoje penso que seria tão diferente se os nossos professores nos explicassem um pouco sobre aqueles alunos, da importância de eles estarem na escola, como nós poderíamos nos aproximar deles. Coisas que estamos fazendo hoje com a inclusão nas escolas.

Mas muito pelo contrário, éramos ameaçados, se não aprendêssemos íamos pra “classe especial”, se tínhamos mau comportamento, nos mandariam para a “classe especial”.

 Então crescemos ouvindo os horrores de ser “deficiente”.

Quantas vezes eu ouvi ôh fulano você parece um retardado da Apae, ou vou te mandar pra escola na”Kombi” da Apae.E por ai vai.

Muitas vezes cobramos uma sociedade melhor, menos preconceituosa, mas acredito que caminhamos para melhor se olharmos para atrás; é claro que engatinhamos mas já foi muito pior.

Não esquecemos que os Açorianos aqui na Ilha de Santa Catarina por exemplo, quando tinha uma filha “solteirona” eles logo já tratavam de despachar a tal rapariga trocando por uma vaca ou uma mesa que estivesse sobrando com um “outro vizinho”.

Nós mulheres também passamos por processo de inclusão na sociedade, e em alguns lugares do planeta continuam sendo excluídas.

Hoje a inclusão começa com os pequeninhos na Educação Infantil, e quando eles tiverem seus 30 anos, não será mais novidade compartilhar um espaço em vários ambientes com Autistas, cegos, surdos...e por ai vai.

As conquistas vão acontecendo, as gerações vãos se transformando e cada um aos poucos vai conquistando o seu lugar na sociedade.

Tarefa importantíssima para pais e educadores ajudar a transformar o olhar do futuro!